Relacionamento tóxico é a sua realidade?

O primeiro passo para sair de um relacionamento tóxico é reconhecer que ele é a sua realidade.

O dicionário nos diz que tóxico é algo "que produz efeitos nocivos no organismo" ou é "capaz de entorpecer por afetar o sistema nervoso". Assim também é com os relacionamentos amorosos, profissionais ou familiares, que podem ser saudáveis ou não. Alguns sinais de que alguma coisa não vai bem é sentir continuamente tristeza, medo, insatisfação, preocupação, vergonha, constrangimento e qualquer outro tipo de sentimento negativo em função de um relacionamento.

Profissionalmente, um chefe tirano, mal-educado e/ou uma empresa que impõe metas absurdas podem criar um clima insustentável desencadeando muitas sensações e sentimentos ruins, que podem ser somatizados e adoecer o corpo de forma grave. A doença que mais representa esse quadro é a Síndrome de Burnout causada pelo estresse no ambiente de trabalho causando esgotamento físico. Ir para o trabalho a contra gosto, sem ânimo e sem objetivo indica que algo não vai bem e que pode ser, entre outras causas, indício de toxicidade nas relações. É preciso avaliar se o sofrimento está atrapalhando nas atividades cotidianas, o que determina que se procure ajuda profissional. Em muitos casos não há nada exagerado no ambiente de trabalho, mas a percepção dele pode estar distorcida por alguma doença como a depressão.

Um relacionamento familiar também pode ser tóxico e causar danos psicológicos bem marcantes. Não é incomum alguns pais maltratarem os filhos, tanto física como emocionalmente, gerando um desconforto devastador. Naturalmente não estamos falando do processo de educação doméstica, onde pode haver divergências de pontos de vista e de opinião entre pais e filhos, mas que são solucionados sem trazer sofrimento constante e duradouro a médio e longo prazos. Há convivências envolvendo qualquer tipo de laço familiar, que são suportadas durante anos com conflitos infindáveis e alimentados pelos próprios indivíduos na relação. Uma menina, por exemplo, pode ouvir durante a infância e adolescência palavras rudes de seu pai, que colocam sua autoestima muito baixa. Além das consequências deletérias da insegurança emocional, podem precipitar um namoro/casamento muito rápido para "fugir" da casa dos pais. É preciso ver o outro como ele é e não como gostaríamos que ele fosse. Coloque-se no lugar do outro e pense se você não tomaria a mesma atitude. Expanda ou abra o diálogo emocional onde você diz o que sente, não o que quer do outro.

O relacionamento deve ser bom para todos

Os relacionamentos amorosos (incluindo as amizades) têm um vasto terreno para serem tóxicos. A regra geral vale também nesses casos: está fazendo mal e causando sofrimento, então tem algo errado. Os relacionamentos devem ser prazerosos, alegres, construtivos, positivos, respeitosos ou seja: tudo de bom. Claro que há divergências e isso é bom para que se vá para em frente em um processo dialético maduro ou através de uma DR (discussão da relação) agressiva. No entanto, isso ocorre de maneira pontual e faz parte dos ajustes necessários para a convivência saudável e para se traçar um projeto de vida conjunto. De outro lado, quando reina a discórdia, o desentendimento, o sofrimento, a angústia, o medo, a falta de respeito e possíveis agressões morais e físicas o relacionamento é abusivo. Muitas vezes a sutileza do parceiro em manipular o outro é muito grande e isso pode fazer com que a autoestima seja gradativamente atacada até chegar no degrau mais baixo. Nesse momento, a pessoa já está numa situação crítica em que sua identidade está gravemente ferida e a dependência emocional do outro muito alta. O que confunde muito as mulheres, por exemplo, é que a relação abusiva tem um ciclo que se inicia com uma tensão sobre algum assunto (ciúmes, opinião etc.) e gera algum tipo de incidente (discussão, agressão etc.) Depois disso vem a reconciliação e um período de calmaria, que antecede o reinício do ciclo. O parceiro procura sempre uma justificativa para o comportamento negativo do outro como o estresse, o "jeito dele", ele(a) teve uma semana difícil e por aí vai. O ciclo é vicioso e difícil de ser rompido, assim como a dependência química de uma droga, mas é preciso rompê-lo. Havendo sofrimento e prejuízo da qualidade de vida é preciso procurar ajuda.

O primeiro passo para sair de um relacionamento tóxico é reconhecer que ele é a sua realidade. A partir daí, procurar ajuda de amigos e parentes é fundamental. Consultar-se com o psicólogo idem, pois há isenção emocional, habilidades para conduzir o assunto e o problema não necessariamente é o outro lado. Importante, também, é ter uma sólida rede de apoio, que poderá lhe proteger física e emocionalmente.

Relacionamentos tóxicos podem se transformar em saudáveis, mas é uma jornada em que os dois lados identificam que têm problemas e querem, de forma franca e amorosa, resolver os conflitos com ajuda profissional na maioria das vezes. Caso não seja possível fazer isso, saia do relacionamento e procure construir um novo futuro. Sim, é possível.


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