Elogios: o excesso e a falta
O problema, além da quantidade, está na qualidade do conteúdo e na forma como as críticas e elogios são feitos.
O elogio pode parecer sempre algo bom, um estímulo, mas pode ser interpretado como pressão,
colocando a pessoa na busca da perfeição. O excesso de elogios pode afetar profundamente a autoestima, mas nem sempre de forma positiva.
A busca constante pela aprovação e reconhecimento dos outros pode causar frustração, depressão, ansiedade e todo tipo de sofrimento psíquico.
Qual a dose certa de elogios?
O ser humano é gregário e, portanto, gosta de fazer parte de grupos sociais e conviver com seus semelhantes.
Interagir com pessoas diferentes dá subsídios para ajustar as referências individuais de comportamento visando maior aceitação dos grupos.
O ponto central é que o ser humano, além de interagir, para se sentir pleno precisa ser aceito pelos grupos aos quais faz parte,
criando e mantendo o sentido de pertencimento. O elogio e a crítica vão indicar o caminho da aceitação de um trabalho feito ou da
própria pessoa.
Os pais, em relação aos filhos, tendem a ficar em dois extremos: elogiar demasiadamente ou não elogiar nada.
Elogios que exaltam a inteligência única do filho, como “meu filho é o mais inteligente da escola”, transferem para a criança a
responsabilidade de não decepcionar os pais, que podem projetar nos filhos a realização daquilo que eles não conseguiram ser ou fazer.
A criança passa a fazer de tudo para atingir o ideal desejado pelos pais. Essa busca pode continuar na adolescência e na fase adulta.
No entanto, no mundo real, não é possível ser o melhor sempre e em tudo ao mesmo tempo.
Ao não conseguir atingir ou superar a expectativa dos pais, a criança tem grande sofrimento psíquico, pois teme perder o amor dos pais.
Como devemos elogiar para estimular e não pressionar?
Elogio e crítica são necessários para o indivíduo perceber se seu comportamento está de acordo com o esperado por um
determinado grupo, seja, por exemplo, na elaboração de uma tarefa ou na postura diante de um problema familiar. O medo de arriscar e fracassar pode
deixar a pessoa em sua zona de conforto permanente e isso poderá impedi-la de almejar melhores posicionamentos pessoais e profissionais. A falta de elogios e críticas,
no entanto, pode sinalizar de forma errada, deixando a pessoa pensar que já faz tudo certo.
O problema, além da quantidade, está na qualidade do conteúdo e na forma como as críticas e elogios são feitos.
Em excesso causa problemas, mas a ausência também é ruim. Portanto, é preciso ter critérios para elogiar. O elogio deve ser feito para realçar o
esforço que a pessoa faz para atingir um objetivo, sendo o resultado positivo ou não. Além disso, é preciso elogiar o esforço coletivo, mostrando
que o trabalho conjunto é necessário e todas as pessoas do grupo são importantes. Numa empresa, a dosagem certa para o chefe elogiar está na
valorização do trabalho em equipe, sem deixar de reconhecer o esforço de cada um, pois, em muitos momentos, o incentivo é mais importante que o elogio.
Na prática, as pessoas devem sempre ser citadas, pois todos precisam ter referências acerca de seu desempenho pessoal para corrigir e aprimorar habilidades e
comportamentos nas relações interpessoais com familiares, amigos ou colegas de trabalho.
O excesso ou a falta de elogios, reforços positivos ou feedbacks podem, portanto, favorecer o surgimento de dois indivíduos
com reações opostas. O primeiro é rigoroso demais, impessoal e tirano, pois foi criado se vendo superior aos outros. O segundo é frustrado e com enorme
sofrimento psíquico, porque vive, desde a infância, a busca incessante pela perfeição para agradar aos outros. Elogiar demasiadamente não dá margem para que
a pessoa ou o outro possam errar. É preciso enxergar as pessoas como elas são e não como gostaríamos que fossem, sejam elas familiares ou desconhecidas.
Isso ajuda na dosagem certa dos elogios.
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